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segunda-feira, 19 de novembro de 2012

A vida embaixo de pontes e viadutos do Distrito Federal


Vivendo em condições precárias e sujeitos à violência, mais de 2,5 mil moradores de rua preenchem parte de um cenário crítico do DF. Entre estes, 319 famílias que se encontram sem perspectivas de melhoria de vida procuram abrigo embaixo de pontes e viadutos.

Os números fazem parte de  pesquisa feita pela Universidade de Brasília (UnB) e pela Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social e Transferência de Renda (Sedest) sobre a população em situação de rua na unidade da Federação. Ainda conforme o estudo, 67% dos adolescentes conciliam suas atividades para ajudar no sustento da família, mas mantêm os estudos, comparecendo   às salas de aula. A pesquisa constata, ainda, que 86,4%  possuem o Ensino Fundamental incompleto.

Com lonas e pedaços de madeira, aos poucos os detalhes de uma “casa” vão surgindo. As pilastras de concreto substituem as paredes e permitem que as famílias emoldurem seus lares. Para muitos deles, as  questões financeiras e pessoais, como o desemprego e a depressão, são alguns dos vários motivos que os levam a viver nestas condições. 

Com a chegada de um dos períodos mais frios à cidade, o final do ano, há um aumento significativo de famílias que  migram de outros locais em busca de um pouco de proteção embaixo das pontes e viadutos. De acordo com a Sedest, essa ação acontece, pois a expectativa das famílias é receber doações, como cestas básicas e roupas.

Há mais de dez anos morando embaixo de um dos viadutos da L2 Norte, Valfredo Cristovão, de 41 anos, recolhe material reciclável e, com o dinheiro que ganha, se esforça para dar o que comer aos seus três filhos e mulher. Todos vieram de Salvador (BA), em busca de trabalho e um lar. “Cato minhas latinhas e materiais em cobre para revender a uma empresa, mas infelizmente não é o suficiente” diz.

Vivendo um dia de cada vez
Enfrentando fortes chuvas e vencendo um dia por vez, a família de Valfredo Cristovão almeja um futuro melhor para os filhos. Dois deles estão matriculados em escolas públicas. “Não quero que meus filhos levem essa vida para sempre. Eles são a promessa de uma vida melhor”, enfatiza Valfredo.

Assim como a família do catador de material reciclável, outras seis famílias moram embaixo da ponte que liga a região administrativa de Taguatinga a Samambaia. Expostos ao perigo do Córrego Taguatinga, barracos são montados e equipados com televisão, geladeira, fogão e até tanquinho elétrico para lavar roupas.

Morando com seu marido e quatro filhos pequenos, Adriana Alves Guimarães, de 26 anos, veio para Brasília a convite de seu cunhado, pois, segundo ele, a cidade traria ótimas oportunidades de emprego e melhorias na vida do casal. “Acreditamos nas palavras dele e já temos um ano neste local. É uma luta diária pela sobrevivência”, conta a jovem mãe.

A única renda da família vem do marido de Adriana. Porém, ele trabalha como jardineiro esporadicamente e ganha um salário-mínimo de R$ 622 por mês. De acordo com Adriana, entra mês, sai mês e a família continua passando  necessidade. Por isso, descarta a possibilidade de arranjar um local para alugar. “Se acatarmos essa hipótese, ficaremos com fome”, fala.

Alternativas
Contudo, algumas alternativas de melhoria já estão nos planos da família. Após o Natal, todos seguirão para a cidade natal e sua filha mais velha, de  cinco anos, entrará na escola no início de 2013.

Para famílias como as de Valfredo e Adriana, a  Sedest disponibiliza o Serviço de Abordagem Social, que é feito sistematicamente, a fim de fornecer ajuda por meio de equipes formadas por educadores, assistentes sociais e psicólogos. No momento da abordagem, o projeto visa encaminhar as famílias para as unidades de proteção social da secretaria, o Centro de Referência de Assistência Social (Cras) e o Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas), garantindo os direitos de cada cidadão.

Para este processo é feita uma análise das demandas individuais para saber ao certo como serão feitos os encaminhamentos   necessários. “Todas as ações para o enfrentamento da situação de rua devem ser integradas com as secretarias de Saúde, Desenvolvimento Social e Transferência de Renda, Segurança Pública entre outras”, explica a Sedest.

Ponto de vista
Segundo a professora do curso de Serviço Social da Universidade Católica de Brasília, Karina Figueiredo, a  maioria das pessoas que se encontra em condições precárias embaixo de pontes e viadutos do DF é de baixa escolaridade  ou passou por algum transtorno em suas vidas.

“Estas famílias estão vivendo esta realidade, pois, não possuem alternativas de uma perspectiva de vida melhor”, explica. Em outros casos, parte dos moradores de rua de Brasília são pessoas que vêm de outro estado em busca de crescer financeiramente. Quando o objetivo não é alcançado, as ruas são o local mais acessível. “Já estavam sem dinheiro, não conseguem emprego e a situação piora”, diz.


Fonte: Da redação do clicabrasilia.com.br

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